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Relacionamento

 

            Perguntei a um jovem: "Como está a sua comunhão com Deus?" Ele me respondeu com ares de quem não sente a menor crise de consciência: "Não posso dizer que vai bem, mas o básico eu faço. Oro antes de dormir e leio um versículo da Bíblia, pelo menos."

            Pobre garoto! Engana-se a si mesmo! Tal relação espiritual em muito se assemelha aos casais de namorados com relacionamento em estágio terminal. Não há o que conversar, não há o que comentar; só se pede, nada se dá, e a culpa é sempre do outro. Para o menino, Deus ainda deveria estar muito contente de haver um rapaz que lê um "versiculosinho" ou que faz uma "oraçãozinha-merreca" antes do ronco. É mais um jovem evangélico, a demonstrar, de forma grotesca e rústica a péssima qualidade espiritual da igreja do século XXI. Quando não há comunhão, a grande questão é: "Até onde será que eu posso ir? Posso beber? Posso fumar? Posso ficar? Posso transar? Quantas vezes eu posso pedir perdão pelo mesmo pecado? Se ninguém vê, estará tudo bem? Será que não é apenas preconceito, uso e costumes, questões culturais?"

            Aquele que vive um estado espiritual meramente vegetativo caça brechas, nas quais pode enquadrar-se como alguém menos pecador do que realmente é. É a vontade de se autojustificar a todo custo. Seu cristianismo é pura tradição.

            Quando há comunhão com Deus, a questão é outra. Não se pergunta: "Posso fazer isso?" Contudo pergunta: "Devo fazer isso? Será que edifica? Será que é construtivo? Isso beneficiará a mim e aos demais? Não será motivo de escândalo? E se um irmão mais fraco me vê assim, estaria eu em paz comigo mesmo e com Deus? O que quero está baseado no amor altruísta?"

            No coração do legítimo comungante, a glória de Deus e a edificação do próximo vêm em primeiro lugar. O gosto pessoal passa por esses crivos. E as decisões são baseadas nisso; mediante a revelação contida nas Escrituras Sagradas. É a chamada "lei da liberdade em amor", mencionada por Tiago, em sua epístola.

            Para Cristo, quem O ama guarda Seus mandamentos. E quem não o ama, não guarda. É simples, não? Alguns considerariam simplistas, mas não é. Deus é um ser definido. Não há morno, mas quente ou frio. Não há talvez, mas sim ou não. Não há purgatório, mas céu ou inferno. Deus é tão claro e definido como o código binário, da informática: ou é zero, ou é um. Não há dois ou mais. Ou se está ligado, ou desligado. Ou é salvo, ou é perdido. Ou ajunta, ou espalha. Ou é a favor, ou é contra. Ou é fiel, ou é infiel. Ou está certo, ou está errado. Citando novamente os dizeres do Senhor, ou ama a Jesus, guardando os mandamentos, ou simplesmente não O ama.

            Você é do tipo que ama a Jesus? Ou nunca lhe passou pela cabeça que o amor desejado por Cristo, traduz-se em atitudes, não meramente em palavras? É fácil demais nos escorarmos na justificação pela fé, mediante a graça do Senhor. O difícil é entender e aceitar que essa graça motivada pela fé que ela nos outorga, produz indubitavelmente um fruto, e esse fruto se chama obediência. Quem não obedece, ainda não experimentou, de fato, do amor de Deus em sua vida. O Apóstolo Paulo diz: "Pois o amor de Cristo nos constrange..." (II Coríntios 5.14) Se o amor de Cristo não estiver a constranger o nosso coração, então, não houve salvação, nem justificação, nem regeneração, e estamos perdidos.

            Aqui não se trata de perfeição. Nenhum de nós é perfeito. Nem um de nós é isento de pecado. Todos tropeçamos e caímos. Infelizmente nós ainda não alcançamos a perfeição, e nem a alcançaremos enquanto estamos na Terra. Mas, tratamos de comunhão com Deus: quanto mais próximos do Senhor, mais tocados e transformados somos, e menos coisas erradas e egoístas praticaremos. Em comunhão boa com Deus, subimos os degraus da santificação constantemente, e buscamos não descê-los de novo. Vamos nos esquecendo do que fica para trás, e vamos prosseguindo, sempre melhorando, sempre vislumbrando um comportamento mais correto, mais santo, mais justo, mais perfeito. "Mas a vereda dos justos é como a luz da aurora, que vai brilhando mais e mais até ser dia perfeito." (Provérbios 4:18) "Irmãos, quanto a mim, não julgo havê-lo alcançado; mas uma coisa faço: esquecendo-me das coisas que para trás ficam e avançando para as que diante de mim estão, prossigo para o alvo, para o prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus." (Filipenses  3:13-14)

            Mas ainda pecamos, mesmo sendo crentes. Contudo, há uma diferença básica: os que são regenerados pecam esporadicamente, vitimados pelas armadilhas da carne, do mundo e de Satanás. E arrependem-se amargamente, logo após a tragédia, seja ela grande ou pequena. O Espírito Santo nos convence do pecado. (João 16:8) Se somos do Senhor, não teremos paz de espírito em meio ao erro. A consciência nos acusará, a vergonha nos corará, a tristeza do Senhor nos enquadrará. Mas é para o nosso bem, "Porque a tristeza segundo Deus produz arrependimento para a salvação." (II Coríntios 7:10) Seu propósito é disciplinar, para que não pequemos mais. Deus diz por meio de João: "Filhinhos meus, estas coisas vos escrevo para que não pequeis. Se, todavia, alguém pecar, temos Advogado junto ao Pai, Jesus Cristo, o Justo." (1João 2:1) E, para fortalecimento maior da confiança que temos no Senhor, encontramos também: "Porque sete vezes cairá o justo e se levantará; mas os perversos são derribados pela calamidade." (Provérbios 24:16) "Ainda que caia, não ficará prostrado, pois o Senhor o sustém com a sua mão." (Salmos 37:24 CR)

            Mas, os não regenerados não se arrependem. Erram, zombam, brincam de enganar a Deus manhã após manhã, e, não raras vezes, tentam enganar a si mesmos com uma falsa comunhão, com uma "oraçãozinha-merreca" e um "versiculosinho" por dia. Irmãos, definamo-nos diante de Deus! Saiamos de cima do muro, e escolhamos hoje a quem queremos seguir! "Arrependei-vos, pois, e convertei-vos, para que sejam apagados os vossos pecados, e venham assim os tempos do refrigério pela presença do Senhor." (Atos 3:19 CR) A vitória sobre o pecado só é possível quando nos rendemos ao Senhor, e render-se significa recebê-lo como Senhor e Salvador de verdade, não só da boca para fora. Por que não fazê-lo agora, aqui mesmo, neste momento? Digamos se for o nosso caso: "Senhor, perdoa-me, pois sou escravo do pecado. Não consigo libertar-me e nem tenho vontade de libertar-me. Ajuda-me, opera em meu coração, dá-me a fé e o arrependimento necessário e com tua mão segura bem a minha, conduzindo-me à regeneração pela fé em Teu nome. Quero amar a Jesus, e, em decorrência disso, guardar os seus mandamentos, demonstrando todo o meu amor. Por favor, atende-me. Em nome de Jesus. Amém!"

Thaines dos Santos

Editado por Philip D. Walmer