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A Pedra No Caminho Da Gurizada

 

Loló e cola de sapateiro sumiram da lista de motivos que levam os pequenos gaúchos a serem internados no Hospital Psiquiátrico São Pedro, em Porto Alegre. O crack está por trás de 60% das internações registradas na ala infantil – o equivalente a 70 vítimas da droga por ano. Embora não haja estimativas oficiais sobre o número de crianças dependentes químicas, o  avanço do crack é notório entre elas.

Pelos dados da instituição, referência no atendimento a dependentes químicos menores de 12 anos no Rio Grande do Sul, problemas psiquiátricos como transtorno de humor, de conduta e de déficit de atenção com hiperatividade e envolvimento com outras drogas representavam, em 2005, 90% dos casos atendidos. Ao crack, restava 10%. Atualmente, a droga responde por seis em cada 10 internações.

- Até 2004, as internações de crianças eram motivadas por retardo mental, surtos psicóticos, autismo e uso de loló. Hoje, só dá crack, e cada vez mais cedo – afirma a psiquiatra e psicanalista Suzana Deppermann Fortes, responsável pela psiquiatria da ala infantil do São Pedro e coordenadora do Departamento de Psiquiatria da Infância e Adolescência da Associação de Psiquiatria do Rio Grande do Sul.

Entre os adolescentes, a inserção do crack é ainda maior. A droga responde por 90% das internações de jovens com idades entre 12 e 17 anos. Quatro anos antes, o índice era de 10%. Dos 50 egressos da instituição entre os meses de setembro e maio, 80% voltaram a consumir a pedra regular ou eventualmente, conforme levantamento do psiquiatra Ronaldo Lopes Rosa, responsável pela psiquiatria da ala adolescente do São Pedro.

Em cada ala, são oferecidos 10 leitos. Há lista de espera. O surgimento de uma geração de viciados infantis surpreende profissionais experientes, como o psquiatra Sérgio de Paula Ramos, membro do Conselho Consultivo da Associação Brasileira de Estudos sobre o Álcool e outras Drogas e coordenador da Unidade de Dependência Química do hospital Mãe de Deus.

- Pela primeira vez, o álcool não é a primeira droga de experimentação. Em vez de começar pelo álcool e partir para outras drogas, agora o início é direto no crack. Isso denota o abandono familiar.

A internação, entretanto, não é garantia de libertação do vício. No caso das crianças, o período de 30 dias sob medicamentação, psicoterapia e acompanhamento familiar é insuficiente algumas vezes. Depois da alta hospitalar, nem sempre há profissionais nos serviços de saúde dos municípios para acompanhar as crianças após a alta hospitalar. Em casa, o retorno ao vício é quase certo, uma vez que os pequenos integram famílias desestruturadas. Entre os adolescentes, o índice de reinternação no Hospital Psiquiátrico São Pedro é de 30% nos 12 meses seguintes após a alta.

 

Os Números do Hospital São Pedro

 

Em 2008, uma pesquisa realizada com 41 crianças e adolescentes internados apontou que 27 eram dependentes de crack:

 

8

 anos era a idade em que o paciente mais novo havia experimentado crack. Entre os entrevistados da pesquisa, apenas dois não usavam maconha e seis deles não usavam álcool.

 

75

 dias foi o tempo máximo de internação. A maioria estava no hospital pela primeira vez.

 

 

11

 dos 27 pacientes haviam sido internados por ordem judicial e cinco já tinham passado por três ou mais internações.

 

20

 pacientes, depois do tratamento, foram encaminhados para prosseguir a desintoxicação em centros de apoio psicossocial e cinco para comunidades terapêuticas.

 

Sistema Nervoso Central

            Ao afetar o sistema nervoso central, o crack provoca alterações do sono, fome, humor e ansiedade. Há aumento de impulsividade e potencial para violência. Quadros psiquiátricos mais graves também podem ocorrer, como psicoses, paranoia, alucinações e delírios.

 

Garganta

            O calor da fumaça e as substâncias  que compõem o crack irritam a garganta, afetando laringe, traquéia e brônquios.

 

Coração

            A liberação de dopamina faz o usuário ficar mas agitado, o que leva o aumento da presença de adrenalina no organismo. A consequencia é o aumento dos batimentos cardíacos e da pressão arterial. Problemas cardiovasculares, como  infarto, podem acontecer.

 

Memória

            O juízo critico deteriora, com a memória e a capacidade para resolver questões complexas. Os danos ao cérebro têm potencial de serem definitivos, em razão da imaturidade do sistema nervoso. Os prejuízos apontam para empobrecimento cognitivo em relação ao potencial original.

 

Pulmões

            Com a desnutrição e a aspiração de substâncias nocivas, os usuários de crack estão mais sujeitos a pneumonia, infecções respiratórias, asma e brônquios. Há propensão à tosse, falta de ar e dores no peito.

 

Rim

            Há risco de intoxicação por alumínio, uma vez que a queima da droga feita muitas vezes em latas de refrigerantes transformadas em cachimbo. A lata é aquecida para inalar o crack. Além do vapor, o usuário aspira o alumínio, que se desprende da lata aquecida. O metal ingressa na corrente sanguínea e se espalha pelo corpo, causando danos ao cérebro, pulmões, rins e ossos.

 

Músculos e Ossos

            O crack provoca a degeneração invensível dos musculos esquelético, a rabdomiólise.

 

Pele

            Desitratação e desnutrição são frequentes entre os usuários.

 

            O uso de crack leva crianças a se prostituírem para  manter o vício. Com o sexo sem proteção. Estão sujeitos a doenças sexualmente transmissíveis e hepatite.

 

Primeiros Passos

            O envolvimento com a pedra segue um padrão:

 

As Causas

            O cenário para que o vício se estabeleça é a combinação de predisposição com, família desestruturadas. A figura do pai é fraca ou ausente – inclusive no que toca às mães, que muitas vezes são obrigadas a exercer esse papel. Com muita frequência, os usuários mirins são crianças que vivem só com a mãe ou com ela e um padastro. O uso de álcool e de drogas pelos pais também é um fator corriquero.

 

O início:

            Depois de experimentar, em geral por oferecimento de algum amigo, os meninos passam a viver para a pedra. A escola é abandonada e começam os pequenos furtos em casa e a rotina de pedir dinheiro nos semáforos. A venda das próprias roupas e de outros objetos  pessoais de valor são comuns.

 

Delitos leves

            Sem mais condições de obter recursos em casa para comprar, os  meninos, especialmente os mais pobres, vão buscar o dinheiro na rua  mediante delitos, geralmente pequenos furtos. As fugas de casa tornam-se comuns.

 

Delitos Graves

            Consumindo em grande quantidade, muitos meninos começam a cometer crimes mais sérios, como assalto e arrombamentos. Entre as meninas, quando não existe outra forma de manter o vício o recurso à prostituição é habitual.