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Chamada ou Mera Ambição?

Atos 9:15-16

            Nestes dias o profissionalismo tem tomado uma importância como nunca na sociedade do mundo. Educação é mais importante do que nunca no mundo moderno, e deve de ser assim. Não desprezo o estudo, e por várias décadas sempre incentivei a todos, inclusive os adultos, adquirir mais conhecimento através do estudo formal, administrado por pessoas altamente qualificadas, que poderiam realizar nas vidas dos seus alunos o alvo almejado.

            Infelizmente, tem pessoas entrando no ministério hoje que não tem a mínima idéia o que realmente é um ministério verdadeiramente apostólico da Palavra de Deus. Eu temo que o ministério para muitos tenha se tornado uma mera profissão para ser exercido com nada mais ou nada menos do que uma ambição carnal de ser "pastor" ou qualquer outro título aplicável.

            Alguns visam somente à autoridade que aparentemente acompanha o título, enquanto outros visam fama, vanglória, aplausos, ou a admiração do povo por estarem atrás de um púlpito elevado. E infelizmente alguns almejam uma vida de abundância com pouco trabalho, pensando em viver aos custos do povo, que na realidade não servem como Jesus exemplificou para todos que O iriam seguir nos séculos vindouros.

            Todos que almejam o ministério da Igreja precisam entender com perfeição que eles podem se tornar pastores de acordo com a definição da palavra atual e moderna, mas é de suma importância que entendem que são inferiores ao sumo pastor, Jesus Cristo. Nunca serão elevados acima Dele em qualquer sentido, de fato estarão sempre subjugados a Ele, isto é em posição inferior a ele, servos Dele.

            Agora, com este fato firmemente estabelecido vamos analisar o que os profetas falaram acerca Dele e o que Ele falou acerca dele mesmo, enquanto mantemos uma visão clara acerca de nosso relacionamento com Jesus, aquele que deveria ter nos chamado para seu ministério.

            A leitura do livro de Isaías capítulo 53 se torna quase depressivo a vista do fato que Pedro falou no seu primeiro livro, no capítulo 2 versículo 21 que Jesus padeceu e assim nos deixou exemplo para seguir nas suas pisadas. Logo não parece a vida mansa e boa que muitos desejam, mas totalmente ao contrário. Não podemos esquecer-nos de quem devemos estar seguindo no ministério. Não é uma figura moderna, popular, bem de vida e que está na boca do povo. Nunca foi o exemplo que Jesus nos deu, e devemos nos lembrar que somos obreiros, pastores, ou que seja o cargo a nós designado, abaixo da Sua tutela e liderança. Ele sofreu tudo que Isaías profetizou e Pedro presenciou pessoalmente o padecimento Dele ao longo de três anos e meio, que culminou na sua morte terrível e sofrida numa cruz romana. É indispensável que nós nos lembramos que no ministério bíblico e apostólico todos sofrerão; talvez não em tudo, mas pelo menos em parte, as coisas que Jesus sofreu. O leitor deste artigo não deve dispensar a leitura integral da passagem de Isaías mencionada acima.

            Veja com atenção o que Jesus falou acerca do seu próprio ministério em Mateus 20:28: "...Bem como o Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir, e para dar a sua vida em regate de muitos." Nos eventos pouco antes da crucificação de Cristo achamos um evento muito significativo para nossa observação. Jesus ordenou dois dos seus discípulos prepararem a ceia costumeira da páscoa. É interessante notar que nenhum deles aparentemente lembrou-se da necessidade de preparar tudo para lavar os pés dos demais, ou pelo menos não entrou nos seus pensamentos que um deles seria a pessoa para servir como anfitrião e assim lavaria os pés de todos os convidados como era o costume daqueles dias. Jesus então fez isto e depois ensinou com as seguintes palavras de João 13:13-17: "Vós me chamais Mestre e Senhor e dizeis bem, porque eu o sou.  Ora, se eu, Senhor e Mestre, vos lavei os pés, vós deveis também lavar os pés uns aos outros.  Porque eu vos dei o exemplo, para que, como eu vos fiz, façais vós também. Na verdade, na verdade vos digo que não é o servo maior do que o seu senhor, nem o enviado, maior do que aquele que o enviou. Se sabeis essas coisas, bem-aventurados sois se as fizerdes." Notamos no livro de Atos, capítulo 1 um espírito bem diferente entre eles, que os induziram a agir com um espírito bem diferente que preparou a todos para o derramamento do Espírito Santo. Este espírito de confraternização e amor fez com que todos serviram todos com prazer e o resultado foi um grande avivamento e um estrondoso crescimento da igreja. A Igreja e seus ministros precisam voltar a estes princípios se é que querem ainda influenciar nosso mundo para Deus e a salvação que providenciou para todos. Creio que muitas vezes a Igreja é mal vista pelo mundo, pois ela e seus ministros não seguem fielmente os ensinamentos e exemplo de Jesus Cristo.

            Diante das passagens acima logo entendemos nossa posição em relação a Jesus, bem como nossa relação diante do povo que devemos servir. Não somos mestre, nem senhor ou outra coisa semelhante, mas um mero servo, primeiramente a Jesus Cristo e depois ao povo que fomos chamados a servir. Um suposto ministro, que infelizmente acabou se afastando do ministério e de Deus, vindo a falecer longe de Deus e a salvação, me disse uma vez que Deus o deu o "dom de mandar." Pode imaginar que fiquei horrorizado com tal declaração. Procurei lhe endireitar o pensamento, mas não me deu ouvidos, e finalmente foi rejeitado por Deus e o povo que deveria servir, chegando a morrer na maior desgraça, que aqui não dá para descrever. Deus nos deu pelo poder do seu Espírito Santo o mesmo espírito e mentalidade que habitou em Jesus Cristo, isto é um espírito de servir e servir com prazer, nunca pensando no nosso próprio bem-estar ou recompensas, financeiras, sociais ou as de qualquer outra natureza.

            Agora, tendo exposto o acima, o leitor pode melhor entender o título do artigo. O leitor deste artigo, seja ministro credenciado, ou aspirante ao ministério deve parar para refletir sobre sua vida, chegar a uma conclusão que beneficia ele, sua família e todos que ele procura pastorear. O que é que precisamos determinar? É algo muito importante e isto é se somos ou não chamados por Deus ou simplesmente escolhemos o ministério carnalmente como profissão para nós desejável. No livro de João capítulo 10, versículos 12-13 Jesus menciona com desprezo o que Ele mesmo chamou de mercenário, ou em outras palavras aquele que não é pastor de verdade, que não serve com amor e garra, mas meramente por conveniência pessoal. Quando o perigo aparece, eles fogem, abandonam, estando mais preocupado com suas vidas do que a vida das ovelhas que eles alegarem querer cuidar. Não são poucos que vi no decorrer de quase cinquenta anos de ministério que vi agir assim. O triste é que não conseguem salvar ninguém e frequentemente nem eles mesmos. Portanto encorajo a todos a analisarem bem a sua posição diante de Deus para determinar se são verdadeiramente chamados por Ele ou meramente escolheram a profissão por achar bonito. Jesus disse que o bom pastor dá sua vida pelas ovelhas, e não vice-versa. Em II Pedro 2:3 somos alertados ao fato de que nos últimos tempos que alguns farão comércio ou negócio de nós. Não devemos ser aproveitados desta maneira, nem aproveitar dos outros desta maneira. Sim, o ministro é digno do seu salário, no caso da igreja ter condições de dar, e caso o ministro realmente serve o rebanho que pastoreia. (Provavelmente esclarecerei melhor este ponto num artigo posterior.)

            Todos os discípulos de Jesus tinham condições de relatar todos os detalhes da sua chamada, todo o cenário no dia em que foram chamados, bem como seus sentimentos que os induziu a abandonar tudo para responder o chamado por Jesus para segui-lO.

            Relatando meu próprio caso, apesar de ter passado quase sessenta anos desde que fui divinamente chamado para pregar o Evangelho, eu me lembro ainda a emoção da hora, da certeza que era Deus que falava. Era uma coisa simples, mas profunda. Era algo que nenhuma pessoa presenciou, pois era algo entre Deus e eu. No entanto outras pessoas começaram a notar uma determinada diferença em mim. Eu não me achei diferente, mas outros notaram. Eu não comuniquei com ninguém o que tinha me acontecido. Com o passar do tempo Deus começou me guiar mais e mais, de fato interrompeu meus planos e me guiou com uma mão muito forte para que eu fizesse a vontade Dele. Até hoje, não há dúvida no meu ser acerca da veracidade da chamada de Deus para o ministério quando tinha apenas 12 anos de idade. O leitor pode duvidar se quiser, mas não importa se seja eu ou outra pessoa, sabemos bem, muito bem mesmo, o que aconteceu conosco no meio de nossa oração, no meio de nossa sincera buscar de Deus e sua vontade.

            Anos mais tarde, já sendo presidente de um trabalho em crescimento, apareceu um homem para ser examinado, pois tinha pedido credencial como ministro da igreja. Parece que o Espírito Santo me falou, e pedi para o candidato relatar sua experiência quando foi chamado para o ministério. E, como desconfiei, ele não tinha nada para relatar, pois não tinha recebido uma chamada de Deus. Mais tarde foi descoberto que ele tinha rixa com seu pastor, e queria apenas poder sair credenciado para abrir outro trabalho. Quando foi lhe negada à desejada credencial, saiu aborrecido, resmungando que ele nos mostraria como abrir e cuidar de um rebanho. Abriu um trabalho, mas não deu certo, e fechou em pouco tempo. Perdi contato com ele e a família, mas ouvi que voltaram para o mundo. Que pena que tem que acontecer assim. Alguém poderia criticar a diretoria e eu por não conceder a credencial e "salvar" o "irmão". Mas digo com toda certeza que não teria adiantado nada, pois o seu espírito não estava correto com Deus, e nem com os homens, e mais tarde ou mais cedo ele teria falhado, pois não tinha a chamada de Deus. O perigo disto está na história do livro de Atos. Determinados homens procuraram expulsar demônios. Mas os demônios responderam que conheciam Jesus e Paulo, mas não eles. Fugiram nus, afligidos pelos próprios demônios que procuraram expulsar. Quão maravilhoso é ter certeza da chamada de Deus, da plenitude do poder de Deus que vem pela obediência a Ele. Andamos confiantes, humildes, mas confiantes no poder de Deus e na chamada que ele nos deu.

            Amado pastor, ou aspirante ao ministério, se você tem uma chamada de Deus, uma experiência com Deus que lhe deixa confiante e em nada duvidoso, você:

◊ Será servo de todos e nunca procurará se autopromover-se. (Mateus 20:28)

◊ Sofrerá todo tipo de calúnia, desrespeito, ciladas, perseguições e etc. (Isaías 53)

◊ Demonstrará todas as qualidades de amor de I Coríntios 13.

◊ Estará sempre pronto dar sua vida, tempo, saúde e força em prol do rebanho que pastoreia. (João 10)

◊ Recusará fazer negócio ou comércio do rebanho, aceitando somente o que a igreja pode lhe dar confortavelmente, tendo em vista sempre o bem estar do rebanho enquanto ensina o povo do seu dever.

◊ Terá em mente sempre que precisa andar fielmente nas pisadas de Jesus.

◊ Determinará que em todas as circunstâncias da vida e do ministério que perguntará para si mesmo acerca do que Jesus faria na mesma situação.

◊ Procurará sempre ter a mente e atitude do seu Mestre, Jesus Cristo e todas as situações da vida.

 Philip D. Walmer