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A Trombeta SoarĂ¡

            Durante a Guerra Civil dos Estados Unidos, um regimento foi obrigado a acantonar em campo aberto em uma noite nevada.

            Na manhã seguinte, o capelão levantou-se cedo e contemplou um inusitado panorama.

            Durante a noite, várias polegadas de neve caíram, cobrindo inteiramente os sonolentos e fatigados soldados, abrigados em suas improvisadas camas-rolos.

            A área tomou um aspecto excêntrico, eis que os montículos de neve, espalhados aqui e ali, assemelhavam-se ao formato de sepulturas, recentemente cobertas de areia.

            Mas, quando o corneteiro tocou a alvorada, quase instantaneamente, os soldados se levantaram dos seus precários "berços".

            Este episódio fez-me lembrar as palavras de Paulo: "...porque a trombeta soará, e os mortos ressuscitarão incorruptíveis, e nós seremos transformados" (I Coríntios 15:52).

            "Porquanto o Senhor mesmo, dada a sua palavra de ordem, ouvida a voz do arcanjo, e ressoada a trombeta de Deus, descerá dos céus, e os mortos em Cristo ressuscitarão primeiro; depois nós, os vivos, os que ficarmos, seremos arrebatados juntamente com eles, entre nuvens, para o encontro do Senhor nos ares, e assim estaremos para sempre com o Senhor." (I Tessalonicenses 4:16, 17.)

            Foi "de madrugada, sendo ainda escuro", que Jesus ressuscitou dos mortos. Não o sol, mas só a estrela da alva brilhava sobre o Seu túmulo, quando se abriu. As sombras da noite ainda não tinham ido embora, os cidadãos de Jerusalém ainda não estavam acordados. Ainda era noite, hora de sono e escuridão, quando ele ressurgiu. E a Sua ressurreição não interrompeu o sono da cidade. Assim será - "de madrugada, sendo ainda escuro", nada brilhando senão a estrela da manhã - que o corpo de Cristo, a Igreja, ressuscitará. Como Ele, Seus santos despertarão quando os filhos da noite e das trevas estiverem ainda dormindo seu sono de morte. Em seu despertar, a ninguém perturbam. O mundo não ouve a voz que conclama os filhos de Deus. Como o Senhor os fez repousar, cada um em seu silencioso túmulo qual criança nos braços da mãe, assim também, em igual quietude, em igual suavidade, despertarão eles ao chegar a hora. Vêm a eles as palavras vivificantes: "Despertai e exultai, os que habitais no pó" (Isaías 26:18). É nos seus túmulos que entram os primeiros raios da glória. E são eles que bebem dos primeiros albores da manhã, quando nas nuvens do nascente só há ligeiros prenúncios da aurora. São eles que sorvem a fragrância, a quietude, o frescor, a dose solidão, a pureza do alvorecer! Tudo tão cheio de dignidade e de esperança!

            Oh que contraste entre estas coisas e a negra noite que atravessaram! Oh que contraste entre tudo isto e o túmulo de onde se levantaram! E enquanto lançam de si o pó que os limitou, deixando atrás a mortalidade, levantando-se em corpos glorificados para encontrar-se com O Senhor nos ares, são iluminados e guiados para cima - através do caminho ainda não trilhado - sobre os raios da Estrela da manhã, a qual, como a estrela de Belém, os conduz à presença do Rei. "O choro pode durar uma noite, mas a alegria vem pela manhã"

Horatius Bonar.