Vitória - Poder Para Não Pecar
E agora, ali estava eu, anos depois, num quarto de dormitório, em Louisville, Kentucky. Reconhecia que falhara como missionário e me conscientizava de que a última experiência real que tivera no plano espiritual ocorrera no dia em que nascera de Deus.
Naquele momento, tomei a decisão de que, enquanto vivesse, enquanto Deus me permitisse respirar e caminhar sobre a terra, iria sempre enxergar claramente se meu coração já recebera e experimentara o que minha mente captara. Resolvi que procuraria nunca mais confundir as duas coisas.
Minha família estava morando em West Palm Beach, e eu iria para lá. Mas alguém sugeriu:
- Passe por Clearwater, Flórida, para assistir às conferências missionárias. Você pode ir como representante da Missão no Interior do Sudão.
Então saí de Kentucky e fui para Clearwater, onde cheguei já tarde da noite. No dia seguinte, fui assistir à reunião matutina, e ouvir o orador do dia. Nunca tinha ouvido falar dele. Aliás, não conhecia ninguém naquele congresso. Mas escutando aquele pregador, pensei comigo:
"Esse homem conhece a palavra de Deus."
À tarde, fui conversar com algumas pessoas e desincubir-me das tarefas que me haviam atribuído. À noite voltei ao culto, e ouvi o mesmo pregador. Enquanto ele falava pensei:
"Esse homem não apenas conhece a Palavra, mas conhece Deus também."
Assim, no dia seguinte, quando me dirigi para a reunião, estava me sentindo muito feliz pois começava a apreciar suas mensagens. Mas foi aí que ele fez uma crueldade comigo. Apesar de não me conhecer, deve ter ficado sabendo de tudo a meu respeito. Estava mencionando do púlpito os meus fracassos, meus problemas e dificuldades. Não tinha a menor idéia de quem os revelará para ele. Mas a verdade é que, a certa altura, ele passara a falar de minha vida. Achei aquilo profundamente desagradável.
No culto da noite, a situação piorou. Não estava apenas achando desagradável: sentia-me angustiado. Então fui sentar-me ao fundo, no lado direito do salão. Mas não estava esperando o que aconteceu. O pregador estendeu o braço bem na minha direção. Parecia que estava com o dedo no meu rosto, contando os meus problemas a todos os presentes. Abaixei a cabeça, e fiquei assim um bom tempo. Não tinha a menor condição de discutir com aquele homem. Tudo que dizia estava certo. Em dado momento, fez uma pergunta.
- Sabe qual é seu problema? Eu não sabia se era para responder em voz alta. Mas minha vontade era dizer:
- O Senhor está contando tudo que se passa comigo. Pode acabar; conte tudo.
Mas tive o bom senso de ficar calado. Aliás, ele tinha destruído grande parte de meu espírito sarcástico. E continuou:
- Seu problema é o seguinte. Quando você veio a Cristo, sabia exatamente de sua necessidade espiritual. Queria que Deus perdoasse os seus pecados; queria nascer de novo. Mas o problema é que estava pensando em sua condição espiritual. Não procurou saber o que Deus queria de você.
Ele tinha razão. Então prestei muita atenção ao que ele dizia:
- Você foi à cruz de Cristo dizendo: "Perdoa-me, Senhor, perdoa-me. Dá-me a vida eterna". E Deus o perdoou e concedeu-lhe a vida eterna. Mas em seguida você, agora um pecador perdoado, seguiu em frente e passou direto pela cruz, por assim dizer. Largou a cruz para trás, vendo diante de si apenas os portões do céu. Aí começou a correr, e desde então vem tropeçando e caindo. Corre um pouco, tropeça e cai. Levanta e tem de voltar às primeiras obras de novo. Depois corre mais um pouco, e cai outra vez. Corre um pouco tropeça e cai. Ainda não cansou deste constante cair e levantar, não? Não quer saber por que sua vida está sendo assim?
Eu era todo ouvidos.
- Seu problema é que nunca se virou para olhar para a cruz. Olhe de novo. Verá que lá estão duas pessoas: Jesus Cristo e você. Ele está nela como seu representante, aquele que morreu em seu lugar. Ele se identificou conosco de forma tão completa que cumpriu a Escritura que diz: "A alma que pecar, essa morrerá". Jesus estava na cruz como se fosse nós - em nosso lugar. Ali ele se tornou o que nós éramos. Portanto, aos olhos de Deus, nós estávamos lá com ele.
Naquele instante aconteceu um milagre. Era a primeira vez em minha vida que me ocorria esse tipo de experiência. Senti-me maravilhado. Pela primeira vez, sentia que poderia superar o espírito de crítica e sarcasmo. Finalmente conquistava a vitória!
Mas alguns dias depois, alguém fez alguma coisa de que não gostei, e... bem, pequei de novo. Foi então que compreendi o que Paulo quisera dizer quando escrevera: "Somos sempre entregues à morte".
Paris Reidhead