O Bule De Chá Descartado
"Ora, numa grande casa não há somente utensílios de ouro e de prata; há também de madeira e de barro. Alguns, para honra; outros, porém, para desonra. Assim, pois, se alguém a si mesmo se purificar destes erros, será utensílio para honra, santificado e útil ao seu possuidor, estando preparado para toda boa obra." (II Timóteo 2:20, 21)
Bem que eu gostaria de dizer-lhe que encontrei o velho bule de chá de metal entre os objetos colocados à venda por vizinhos em mudança, ou loja de artigos usados ou, melhor ainda, num poeirento antiquário, mas isso seria mentira. Encontrei o tal recipiente num depósito ilegal de lixo, cercado por pneus carecas, estrados velhos de cama e carcaças enferrujadas de aparelhos fora de época.
Minha descoberta não pode ser creditada a um olhar aguçado ou ao faro de detetive. O bule estava enterrado sob caixas e latas vazias, até que a ponta do meu tênis bateu contra ele. Mesmo depois de desenterrar meu "achado", perguntei-me se aquele desprezado bule compensaria o tempo e a energia que eu teria de empregar para remover a crosta de sujeira. Mas como a minha consciência mantém uma referência perpétua entre a Grande Depressão e a era da obsolescência programada, peguei cautelosamente o bule com dois dedos e o segurei à distância do meu braço para uma rápida avaliação. Com a outra mão livre, raspei a grossa camada de terra marrom até que minha unha arranhou a escura superfície de metal. "Provavelmente, alumínio da safra de 1957!"
Ao voltar para casa, joguei o bule numa prateleira da garagem, esperando ocasião mais oportuna. As semanas se passaram. Um dia, enquanto procurava um vaso onde colocar as primeiras flores de nossas macieiras, lembrei-me bule de chá.
"Tem tamanho apropriado e forma apropriada", pensei, "e é suficientemente rústico para fazer realçar as delicadas flores." Tirei o recipiente da prateleira e voltei para a cozinha. "Se eu me apressar, o meu centro de mesa estará pronto para a hora da janta."
Em poucos minutos eu estava diante da pia da cozinha, com os braços mergulhados em sujeira. Detergente para louça e água quente removeu a cobertura de terra, mas não as camadas de embaciamento e corrosão que cobriam a superfície original do utensílio. Esfreguei até que a esponja de aço me lascou as unhas e se desintegrou em minhas mãos. Enquanto o resíduo preto escorria por meus dedos e descia pelo ralo, resmunguei: "Espero que valha a pena".
Enquanto esfregava, pensei também sobre o fato de ser uma descobridora. Seja uma rua central, seja num depósito ilegal de lixo, seja em minha própria casa, os tesouros humanos estão por toda parte, esperando apenas ser encontrados. A primeira vista, seu valor pode não ser evidente, mas em algum ponto sob as camadas de pecado é possível que um tesouro aguarde ser descoberto. Pode parecer refugo, mas o Mestre Descobridor sempre vê o potencial para a beleza. O potencial pode ser revelado pelo amor e interesse ou então destruído por um tratamento descuidado ou muito zeloso.
"Nisto conhecerão todos que sois Meus discípulos, se tiverdes amor uns aos outros." (João 13:35)
Kay D. Rizzo
Pensamento do Dia: A alma é purificada e preparada para a união com a luz divina da mesma forma que madeira é preparada para transformação no fogo... por aquecê-la e ascendê-la de fora, o fogo transforma a madeira em si mesmo e a faz tão linda quanto a si mesmo. - St. John of the Cross