Chibante
Um pensamento que vale a pena pensar:
Fui criado na roça mexendo com ovelhas, bois e o gado leiteiro.
Muitas vezes às quatro horas da manhã, a gente já estava de pé para cuidar das responsabilidades que a mim e a meus irmãos foram entregues.
Junto à casa onde morávamos tinha uma garagem bem rústica. De tão feia que era, se tornava bonita aos nossos o lhos.
Embaixo dela escondia-se uma carroça de boi, que era usada para transportar o que nós colhíamos na lavoura e também para levar lenha às padarias e hotéis da cidade.
Meu pai tinha um boi de grande estima chamado Chibante, ele e sempre falava com esse boi, conversava com ele, passava a mão no seu pescoço, coçava suas orelhas e dava banho nele de vez em quando.
Meu pai tinha muitos bois que eram usados para puxar o carro. Dentre esses bois, Chibante destacava-se por que era tido como exemplo para os outros bois. Ele era o braço direito de meu pai para amansar os outros bois a puxar o carro.
Chibante puxava na frente arrastando os outros bois novos sem experiência. Muitas vezes Chibante chegava de volta com aquela canga pesada puxando o carro, todo ferido de tanto levar chifradas dos outros bois que não queriam puxar o carro, só causava problemas e desavenças na estrada.
Meu pai tirava o Chibante da canga, curava suas feridas e soltava-o no pasto, comia a sua ração, não berrava, era manso, pescoço calejado, muitas vezes mancando e quando era a tardinha Chibante estava deitado junto do carro, sabendo que pela manha tinha mais uma jornada à fazer. Para conduzir aqueles bois naquela estrada cheia de buracos, meu pai levantava de madrugada e ia atrás dos outros bois que estavam longe do curral e do carro, levava horas e horas para juntar todos no curral para ser cangados, os quais vinham berrando e dando coice.
Chibante já estava cangado junto do carro esperando os outros bois que vinham atrás. Era duro de conduzi-los, porque não queriam nada com o serviço, chegavam chifrando e dando coice sem parar no velho Chibante.
Chibante era o boi de confiança da manada.
Um dia meu pai chegou à casa a noite, olhou na garagem onde estava o carro, e perguntou: "Alice, onde está o Chibante?"
Minha mãe respondeu: "Ora está junto do carro!"
Meu pai ficou desesperado e começou, a procurar Chibante e o achou caído dentro de uma vala, todo machucado de chifrada dos outros bois que nunca amaram o carro e nunca quiseram nada com a canga.
Meu pai ficou muito triste, chamou todos os empregados para ajudar Chibante, o boi que nunca apartara da canga nem do carro. Meu pai deu um fim em todos os bois vendendo-os para o corte que era o destino deles.
Chibante sarou e depois de alguns dias continuou esperando a mesma canga e pronto a adestrar outros bois selvagens.
Chibante era um tipo de responsável pela manutenção de celeiro e para amansar os outros bois selvagens.
Um belo dia meu avô levantou de manhã e espantado, disse ao meu pai : "Chibante não está no carro!"
Meu pai saiu a procurá-lo porque ele nunca tinha feito isso. Encontrou novamente na vala, morto à chifradas. Os outros bois o tinham jogado no barranco, bois que nunca tinham puxado e nem visto a canga.
Meu pai vendeu novamente todos aqueles bois para o corte, e o velho carro ficou abandonado.
Nós levantávamos de manhã e víamos a imagem do Chibante do lado do carro, ou debaixo na canga, talvez o velho Chibante esteja numa vala ferido ou morto, ou talvez muito longe por causa das injustiças e má compreensão...
Devemos tomar muito cuidado com aquilo que falamos e analisarmos; por causa de um cipó podre sem valor poderá perder uma grande árvore frutífera, que vai fazer uma grande diferencia em seu quintal.
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