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Pai:

 

Pensei que fosse fácil fazer-te um poema, papai.

Mas vejo que tua vida é um poema difícil, que a gente não pode escrever.

Vejo os calos das mãos que contam histórias de enxadas, caminhando pelos campos;

e histórias de chinelos, falando uma linguagem, que os filhos não entendem.

Vejo os calos dos joelhos, que contam histórias humildes de horas silenciosas, conversadas com Deus.


Vejo as rugas da fronte que falam das rugas da alma como sulcos da terra que as chuvas abriram.

Vejo os pés cansados, rasgados por espinhos, que a gente não vê.

Vejo o calor brilhante do coração que sempre nos ama, quando ainda não sabíamos amar.

Eu me lembro de um pai, que dorme de olhos abertos pensando no filho, que não abre os olhos.


Lembro-me de um pai,

Que varre o lixo das ruas,

Pensando no lixo das casas,

Que não pode varrer.

Lembro-me de um pai,

Que bebe suas mágoas na garrafa,

Pensando matar as mágoas da vida.


Lembro-me de papai:

É difícil fazer um poema para ti,

Que vives o poema mais lindo.