À Deriva
“Que te farei, ó Efraim? Que te farei, ó Judá? Porque o vosso amor é como a nuvem da manhã, e como o orvalho que cedo passa. (Oséias 6:4)
“Estes são fontes sem água, névoas levadas por uma tempestade, para os quais está reservado o negrume das trevas.” (II Pedro 2:17)
“Tenho, porém, contra ti que deixaste o teu primeiro amor.” (Apocalipse 2:4)
O tom da escrita de Oséias dá entender que o desviar dos caminhos do Senhor era algo comum da época. E, por aquilo que a gente vê hoje em dia, vivemos a mesma situação. As pessoas que tem acompanhado a Igreja ao longe de seis ou sete décadas, como é o caso do autor, notam que a igreja está bem longe de onde estava não muitos anos atrás. É com profunda tristeza que os mais velhos crentes observam as tendências modernas que hoje não só entram na igreja, mas que estão tomando conta de tudo e levando a nova geração por um caminho que a levará a não conhecer a glória que uma vez pertencia à igreja.
Israel se desviou dos caminhos do Senhor, e como castigo Deus permitiu que uma nação inimiga vencesse Israel e levasse escrava a sua população. O lindo templo de Salomão, dedicado para Deus, o qual Deus escolheu para sua habitação foi derribado e saqueado e deixado em ruínas. Anos mais tarde o templo foi reerguido, mas as pessoas mais velhas diziam que a glória deste templo não era como a glória do templo anterior. Esta vez não se lê acerca da presença de Deus como na dedicação do primeiro. Assim seria para a pessoa que se desvia dos caminhos do Senhor. Pode ser que ela volte e salve a sua alma, mas a glória da primeira experiência de Deus não será revivida.
Oséias faz uma comparação muito interessante, isto é que as duas tribos mencionadas tinham se desviado dos caminhos do Senhor da mesma forma que as nuvens da manhã e o orvalho desaparecem. Não acontece de um momento para o outro. Não é como um raio que bate e faz as nuvens e o orvalho desaparecerem. É um processo lento que começa quando o sol aparece e esquenta a terra. Ou, como um vento suave que sopra e aos poucos empurra as nuvens à sua frente e lentamente seca o orvalho das ervas do campo.
Quando alguém se desvia dos caminhos do Senhor, não é de um momento para o outro. É normalmente um processo lento, que leva tempo. Por aquilo que se observa casualmente parece que acontece rapidamente. Um dia a aparência é de alguém que está servindo o Senhor fielmente e repentinamente, ou parece assim, não tem mais a aparência de cristão, o linguajar de cristão; mas a realidade é que faz muito tempo que algo estava corroendo a alma, até que finalmente mata a consciência formada por Deus dentro deles.
Conta-se a história de uma família de fazendeiros que muitos anos atrás morava perto do Rio Niágara no extremo norte dos Estados Unidos. Um dia a senhora estava trabalhando no campo e não muito longe do rio. Sua filha sapeca de cinco anos o acompanhava, mas, como uma criança faria, passou pela cerca, e foi junto ao rio. Lá viu os barquinhos a remo e lembrou-se de ter visto pessoas empurrando os barcos para rio a fim de fazer um passeio, e assim ela fez. Repentinamente a mãe sentiu a falta da menina e saindo a sua procura a viu dentro de um barco, que estava descendo lentamente rio abaixo. A mãe se apavorou, pois logo abaixo a correnteza ficava mais forte e mais ligeira e terminava numa tremenda foz pelo qual caía toneladas de águas por dezenas de metros, terminando nos rochedos abaixo.
E é assim que a gente vê pessoas indo lentamente de volta para o mundo. A correnteza no início é tão lenta, que mal se percebe o movimento. O movimento é tão gostoso, tão relaxante no começo que quase ninguém percebe o que está acontecendo. Mas, aos poucos a velocidade aumenta e quando as pessoas se dão conta é muitas vezes tarde demais para evitar o desastre. Eis o grande valor de ter os olhos fixos em Jesus, a única coisa estável na vida. Somente Ele não muda neste mundo em transição. Ele é nossa bússola, nosso pólo norte, nossa fonte de orientação. Jesus disse que não podia apenas indicar o caminho, mas que Ele na verdade era o caminho.
Quantas vezes o autor no curso do seu ministério tem alertado pessoas com respeito o perigo que estavam correndo. Algumas deram ouvidos aos conselhos, confiando no homem que Deus lhes deu como atalaia na muralha da sua alma, mas outras rejeitaram os bons conselhos espirituais e prosseguiram para sua ruína espiritual.
O título deste artigo é “À Deriva” que define tão bem o início do processo de degradação espiritual. Aquele movimento, lento, mal percebido, na direção errada, que terminará em destruição se uma ação muita enérgica não seja tomada imediatamente para corrigir a direção das coisas, é o grande perigo.
Vamos considerar alguns aspectos da condição de estar à deriva:
- À deriva não quer dizer que está correndo ou indo rapidamente para uma direção, mas apenas indo gradualmente com a correnteza. Se pudéssemos conhecer como uma pessoa se desvia, ficaríamos surpresas. O desviado não foi da virtude para o vício em um pulo. Geralmente há um quase impercebível deslizamento que começa no coração, longe dos olhos de outras pessoas. Depois dos seus grandes pecados, Davi bradou muitas vezes, pedindo para Deus a habilidade para conhecer seu próprio coração, a fim de poder corrigir os erros encontrados dentro dele. Erroneamente pessoas pensam que o verme que se encontra dentro de uma maçã ou outra fruta, veio do lado de fora e penetrou dentro. Negativo! O verme está no lado de dentro desde que a fruta começou na forma daquela flor bonita, pois foi aí que o inseto pôs seus ovos. O pecado é assim. Era por isto que Jesus alertou seus discípulos ao fato de que aquilo que corrompia não vinha do lado de fora, mas de dentro. Davi somente reconheceu isto depois de haver tomado a mulher alheia e mandar matar seu esposo numa tentativa de encobrir o que já se deu por fato consumado. Ninguém percebeu o erro, aliás, o pecado, nem Davi, até o aparecimento do profeta que teve uma mensagem de Deus. Da mesma forma a semente do pecado pode residir no coração por longos tempos sem que alguém perceba. No entanto, como no caso da maçã, o segredo guardado aparecerá em forma de dano espiritual. O homem Davi que aprendeu tanto por suas próprias experiências falou acerca de guardar (ato consciente e proposital) iniqüidade no coração. (Salmos 66:18) Em I João 3:3 lemos que aquele que tem esperança em Cristo e suas promessas “purifica-se a si mesmo...” Cabe a nós nos orientar pela a estabilidade de Jesus Cristo e sua Palavra para ver se ainda estamos na fé.
- Ficar à deriva não quer dizer que estamos assim por vontade própria. Muitas vezes, pessoas estão à deriva espiritualmente antes de perceber o fato. O motorista parado numa sinaleira às vezes pisa mais fundo no freio, pois parece que está indo para trás quando na realidade o carro do lado está indo para frente. É preciso se cuidar com as ilusões, tais como: a ilusão de que tudo parece como sempre era, a ilusão criada por se comparar com os demais crentes, e a ilusão criada pela nova moralidade do mundo. É tão fácil ser iludido, por tanto é preciso “fitar os olhos em Jesus” (Hebreus 12:2), bem como nos orientar pela Palavra de Deus, eterna e inalterada, e pela qual seremos julgados.
- Ficar à deriva muitas vezes é o resultado do ambiente no qual vivemos e trabalhamos. Não é necessária uma tempestade grande para mover um grande navio se este não está bem ancorado. Quase qualquer ventinho o levará do seu lugar e pode ser, ainda que seja por um movimento leve e impercebível, para um lugar longe e de grande perigo. O mundo de hoje está tentando moldar a Igreja para adaptá-la à nova moralidade do mundo sensual, e com algumas igrejas isto já aconteceu. O apóstolo previu isto quando escreveu em Romanos 12:2: “E, não vos conformeis a este mundo, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja, a boa, agradável, e perfeita vontade de Deus.” Aquela pessoa que não é um Cristão devoto, logo cairá na armadilha do mundo sensual, ganancioso, avarento, que procura vida sexual alternativa, divertimento ao custo do moral bíblico, entre muitos outros males que se forçam sobre o crente fraco e desprovido do poder do Espírito Santo.
Meu prezado leitor, você está ancorado, remando ou à deriva? Só você pode perceber e saber com certeza. Outra pessoa pode duvidar da sua orientação espiritual, mas só você sabe por certo como está seu relacionamento com o Salvador da sua alma. Vamos seguir para anotar alguns indícios de que sua vida pode estar à deriva:
- Sua visão espiritual está escurecendo, isto é; você não vê mais o perigo de praticar determinadas coisas. Sansão andou desafiando vez após vez a lei de Deus, e sempre teve a força para sair das situações de perigo, mas finalmente acordou, não somente de um sono físico, mas espiritual, para perceber que sua força havia ido embora sem que ele percebesse. Agora está sem as vistas, sem o poder de antes, e escravizado pelo inimigo do qual Deus o mandou libertar seu povo. Morreu num ato que deu uma grande vitória; no entanto morreu, em ambiente de festa pagão.
- Outro sinal de que poderia indicar que está à deriva é a diminuição do poder para resistir às tentações. Pode perceber que não tem mais a coragem para defender a verdade da Palavra de Deus diante das forças anti-Cristo tão ferozmente presente em todo lugar. Perdeu suas convicções bíblicas, e para ser aceito e popular anda com a multidão aceitando qualquer dogma que surja por aí, bem como os costumes e modas vãos.
- Outro sinal é a falta de confiança em Deus, seu Salvador. Não confia mais no poder de Deus para curar. Apela pela política como fosse à solução dos seus problemas, ou em outras palavras começa apelar para o Egito, tipo do mundo, para a solução de tudo que não lhe proporciona a vida que acha que deve de ter. Deus livrou Israel da escravidão do Egito, mas este povo de Deus chegou ao ponto de incredulidade de apelar para Egito para livrá-lo dos seus outros inimigos. Será que você está fazendo a mesma coisa, voltando ao mundo do qual Deus lhe livrou para preencher um vazio interior ou lhe proporcionar riquezas?
- Mais outro sinal de uma alma à deriva é o ceder facilmente para indulgências pessoais, em vez de buscar a vontade de Deus para sua vida. Isto se torna evidente quando há uma falta de vitória na vida secreta, uma perda de controle sobre apetites carnais. É por praticar o jejum que a gente aprende dominar a carne e seus apetites.
- O desenvolvimento de uma consciência decadente que aceitável a moralidade devassa é outro sinal de uma alma à deriva. Aquela alma já está navegando sobre águas escuras, que no decorrer de tempos hão de tragar os navegadores. Paulo mais uma vez nos alerta a um perigo que se alastra mais e mais em nosso mundo. “... os quais conhecendo bem o decreto de Deus, que declara dignos de morte os que tais coisas praticam, não somente as fazem, mas também aprovam (consentem) os que as praticam.” (Romanos 1:32) Hoje em dia o mundo fez através da mídia meios para até os crentes assistirem na privacidade dos seus lares, as bebedeiras, o uso de drogas lícitas e ilícitas, atos de prostituição, homossexualismo, lesbianismo, incesto, traição conjugal, pedofilia, adultério, fornicação, sodomia, sexo recreativo entre muitas outras coisas do gênero, todas condenadas pela Palavra de Deus. É lógico declarar que pessoas que com prazer assistem estas coisas, apesar de não as praticarem, aprovam e consentem os que praticam, e hão de cair na mesma condenação com os praticantes. Ló, de história bíblica, é muito criticado por morar nas cidades da planície onde era praticado pecados terríveis aos olhos do Senhor, no entanto a Bíblia diz que ele ficou “ ...enfadado da vida dissoluta dos homens abomináveis. (II Pedro 2:7 Corrigida) “ ...atribulado pela vida dissoluta daqueles perversos.” (II Pedro 2:7 Melhores Textos) Amigo Cristão, você está enfadado, atribulado com a dissolução do mundo em volta de você, ou está aceitando tudo isto com a maior tranquilidade? Será que os ventos suaves de mudança de moralidade estão aos poucos mudando você para aceitar qualquer tipo de depravação como fosse comportamento normal. Se for assim, você é uma alma à deriva, indo aos poucos para a cachoeira e o penhasco da morte eterna.
Prezado leitor, se ao ler este artigo, você chegou a analisar sua própria vida e descobriu que está realmente à deriva, lance logo de uma vez a âncora espiritual, e clame por Jesus para lhe salvar antes que seja tarde. Procure mais uma vez a plenitude do Espírito Santo para preencher seu ser, pois este é o único poder que pode lhe afastar deste mundo vil. É o único poder que pode vencer o mundo, que lhe dará o direito de dizer: “... maior é aquele que está e vós [mim] do que aquele que está no mundo.” (I João 4:4)
Philip D. Walmer