>
 

Chamados Para Sermos Santos

Por David Bernard

            "À igreja de Deus que está em Corinto, aos santificados em Cristo Jesus, chamados para ser santos, com todos os que em todo lugar invocam o nome de nosso Senhor Jesus Cristo, Senhor deles e nosso:" (I Corintios l:2)

            A santificação faz parte da nossa experiência salvadora. Como todos os aspectos de salvação, é a obra de Deus (l Tessalonicenses 5:23), adquirido para nós pelo sacrifício de Cris­to (Hebreus 10:10). Nos atinge pela ver­dade da Palavra de Deus (João 17:17), e sua obra é feita em nós pela fé (Atos 26:18).

            Na sua saudação aos Cristãos de Corinto, o apóstolo Paulo enunciou a dou­trina de santificação. Jesus Cristo tem santificado todos os cristãos verdadeiros, e os chama para serem santos - para se tornar e se manter santificado.

O Significado da Santificação

            A palavra santificação significa separação. No contexto acima, refere-se especificamente à separação do pecado. Aqui a palavra Grega é hagiasmos, que significa, "santidade, consagração, santificação." A edição Corrigida da Tra­dução de João Ferreira de Almeida traduz hagiasmos como "santificação" (I Corintios 1:30 e Romanos 6:19, 22). A palavra santo vem da mesma palavra raiz e significa "um ser santificado, separa­do, consagrado, dedicado."

            Uma pessoa recebe santificação inicial no novo nascimento. Quando este se arrepende dos pecados, recebe o batismo em nome de Jesus Cristo para a re­missão dos pecados, e recebe o Espírito Santo. Deus o separa do pecado. Todos tem sido pecador, mas isto muda quando Deus salva. "E é o que alguns tem sido; mas haveis sido lavados, mas haveis sido santificados, mas haveis sido justificados em nome do Senhor Jesus, e pelo Espíri­to do nosso Deus" (I Corintios 6:11).

            Embora que todo Cristão é santi­ficado quando salvo, ainda assim cada um deve também se submeter a um processo contínuo de santificação, um processo que continua através da vida cristã. En­quanto o cristão caminha com Deus, ele se separa mais e mais do mundanismo nos seus valores, pensamentos e ações. Enquanto isso, ele deve se tornar mais santo e semelhante a Cristo. Este processo santificador é uma obra do Espírito Santo (II Tessalonicenses 2:13; I Pedro 1:2), e continuará até a Segunda Vinda de Cristo (lTessalonicenses3:13; 5:23). Naquele momento, nossa transformação para a imagem física e espiritual do homem Cristo, será completa (Romanos 8:29-30; Filipenses 3:21; I João 3:2).

            Há uma diferença evidente entre o significado de santificação e justifica­ção, apesar de que ambos se referem à salvação. Enquanto justificação signifi­ca ser declarado justo, santificação significa se tornar justo. Se uma pessoa tem fé em Deus, ela conhecerá por experiência tanto o saber interior que Deus a tem jus­tificado mesmo sendo culpada pelo pe­cado como também da transformação da sua natureza espiritual que é feito divino e santo.

O Processo da Santificação

            É de responsabilidade do Cristão para permitir que o processo da santificação desdobre-se na sua vida. Se uma pessoa espera herdar a vida eterna, ela deve se submeter à liderança e con­trole do Espírito Santo e viver pelo poder do Espírito Santo. Somos chamados para sermos santos e temos a capacidade dada por Deus para esse fim, mas devemos assumir a responsabilidade de viver como santos.

            "Segui a paz: com todos, e a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor" (Hebreus 12:14). "Por essa ra­zão, pois, amados, esperando estas cousas, empenhai-vos por ser achados por ele em paz, sem mácula e irrepreensíveis" (II Pedro 3:14). "Por­que, se viverdes segundo a carne, caminhais para a morte: mas, se pelo Espirito mortificardes os feitos do cor­po, certamente vivereis" (Romanos 8:13).

            Vivendo como santos significa que é para nós, "...crescer na graça e no conhecimento de nosso Senhor e Salva­dor Jesus Cristo" (II Pedro 3:18). Cresci­mento é rumo à, "unidade da fé e do ple­no conhecimento do Filho de Deus, à perfeita varonilidade, à medida da esta­tura da plenitude de Cristo" (Efésios 4:13). Não devemos nenhum de nós ter alcançado a perfeição, mas enquanto mantemos aquilo que alcançamos, nos movemos para maturidade em conheci­mento e experiência (Filipenses 3:12-16).

            Podemos viver vitoriosos sobre o pecado. Temos sido libertos do poder do pecado e unidos com o Cristo vivo. A mesma graça que nos removeu a culpa de pecados antigos nos ajudará superar o pecado quando o encontramos no presen­te ou no futuro. O evangelho de Cristo não só providencia um remédio para atos pecaminosos, mas também é remédio para a natureza pecaminosa.

            Somos livres do domínio do pe­cado. Jesus disse, "Em verdade, em ver­dade vos digo: Todo o que comete peca­do é escravo do pecado. O escravo não fica sempre na casa; o filho, sim, para sempre. Se pois, o Filho vos libertar, ver­dadeiramente sereis livres" (João 8:34-36). O apóstolo Paulo escreveu, "Que di­remos, pois? Permaneceremos no peca­do, para que seja a graça mais abundan­te? De modo nenhum. Como viveremos ainda no pecado, nós os que para ele morremos? ...sabendo isto, que foi cruci­ficado com ele o nosso velho homem, para que o corpo do pecado seja destruído e não sirvamos o pecado como escravos; porquanto quem morreu, justificado está do pecado" (Romanos 6:1-2, 6-7).

            Como santos, não devemos prati­car o pecado; devemos por outro lado negar o regime do pecado: "Assim tam­bém vós considerai-vos mortos para o pecado, mas vivos para Deus em Cristo Jesus. Não reine, portanto, o pecado em vosso corpo mortal, de maneira que obedeçais às suas paixões" (Romanos 6:1 1-12). Nós morremos com Cristo e ressuscitamos com Ele também. Deus nos declarou ser justos e compartilhou sua natureza de santidade conosco. Enquan­to vivemos em Cristo e para Ele, apren­demos colocar em pratica aquilo que tor­namos pela fé em Cristo.

            Santificação envolve uma vida de transformação e uma contínua renovação da mente pela operação do Espírito: "E não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente..." (Romanos 12:2). ''E todos nós com o rosto desvendado, contemplando, como por espelho, a glória do Senhor, somos transformados de glória em gló­ria, na sua própria imagem, como pelo Senhor, o Espirito" (II Coríntios 3:l8). É para nós tomar/adquirir a mente de Cris­to, aprendendo como pensar segundo os princípios espirituais e avaliando a vida pelos padrões celestiais. Enquanto con­versamos com Deus em oração e louvor e enquanto implantamos a Palavra de Deus em nossos corações através da sua leitura, estudo, meditação e ouvindo a pregação, o Espírito de Deus continua a nos transformar. Vestimos Cristo, negan­do a carne qualquer oportunidade para gratificar concupiscências pecaminosas (Romanos 13:14). Desta maneira. Cristo é formado em nós (Gálatas 4:19).

            O processo de santificação inclui o homem total - corpo, alma e espírito. "Porque fostes comprados por preço. Agora, pois, glorificai, a Deus no vosso corpo" (I Coríntios 6:20). "... purifiquemo-nos de toda impureza, tanto da car­ne, como do espírito, aperfeiçoando a nossa santidade no temor de Deus'' (II Coríntios 7:1). "O mesmo Deus da paz vos santifique em tudo; e o vosso espíri­to, alma e corpo, sejam conservados ín­tegros e irrepreensíveis na vinda de nos­so Senhor Jesus Cristo" (I Tessalonicenses 5:23).

            Tanto o homem interior como o homem exterior precisam de santificação; estes incluem pensamentos, atitudes e mordomia espiritual de um lado, e ações, aparência, e mordomia física do outro. Devemos ser santificado nos pensamen­tos que entretemos, as atitudes que obri­gamos, o fruto espiritual que produzimos, as palavras que falamos, as roupas que usamos, as coisas que nós nos permiti­mos a ver, os lugares que frequentamos, e as ações que assumimos. Em todas as coisas devemos amoldarmos à persona­lidade de Jesus Cristo e aos princípios da Palavra de Deus.

Perspectiva Histórica

            No nosso dia atual há uma grande necessidade de proclamar a experiência da santificação. Os cristãos dos primei­ros três séculos enfatizaram separação do mundo, opondo-se especificamente a ido­latria, imoralidade, guerra, aborto, rou­pas luxuosas e imodestas, jóias, maquilagem, dança, jogar jogos de azar, teatro, esportes mundanos, e outros divertimen­tos.

            Depois da "conversão" do impe­rador Constantino para o Cristianismo e o estabelecimento subsequente do Cristi­anismo como religião do estado, o con­ceito bíblico de santificação não era vantajoso. Durante a Reforma Protestante, líderes como Lutero, Calvin, e Zwingli ignoraram amplamente a questão da santificação no seu zelo para restaurar a doutrina da justificação. Por exemplo, Lutero ensinava que crentes permaneci­am pecadores em natureza e em ações, mas pecadores "justificados". Somente grupos pequenos como Anabatistas enfatizaram a santidade como expressão necessária numa pessoa que tem uma nova vida em Cristo.

            John Wesley, fundador do Metodismo, foi o primeiro Protestante proeminente a enfatizar a doutrina da santificação. Ele ensinava que a santificação era um processo vitalício que se iniciava com a Justificação. Além dis­so, ele cria que nesta vida a pessoa (o cris­tão) podia obter perfeição Cristã, que é purificação do pecado interior. Por "perfeição"ele não quis dizer perfeição impecável (a impossibilidade de pecar) mas sim, a perfeição de motivos, dese­jos, e pensamentos. Ele afirmava que a pessoa santificada pode viver uma vida vitoriosa sobre o pecado através do exa­me próprio, santa disciplina, devoção metódica, e o evitar de prazeres munda­nos. Isto levou ele a opor-se ao vestuário extravagante ou imodesto, adornos, álco­ol, tabaco (fumo), teatro, e diversões mundanas.

            O movimento de Santidade no sé­culo dezenove sentiu que o Metodismo estava perdendo seu zelo tradicional pela santidade. Duas doutrinas diferentes se desenvolveram durante esta época. A vi­são mais tradicional de Wesley, chama­da de Perfeição Oberlina e defendido pela Universidade Oberlina e Charles Finney, ensinava que a santificação é a "segunda obra da graça"- uma experiência instan­tânea subsequente à conversão. Cria-se que por esta experiência a natureza car­nal pecaminosa é completamente desarraigada, depois qualquer batalha cristã são tentações externas e não con­cupiscências internas.

            O outro ponto de vista da santida­de, chamada santidade Keswick, nomea­da segundo o paroquial Keswick na In­glaterra e defendido por líderes tais como Dwight Moody, e assegurava que a natu­reza pecaminosa nunca é totalmente eli­minada nesta vida. Na conversão, porém, este ponto de vista assegurava que o Cristão recebe poder no Espírito para vencer a natureza carnal. Patronos das duas vi­sões concordaram que o Cristão pode e deve viver uma vida santa de obediência a Deus, tendo vitória sobre o pecado e aderindo-se a princípios rigorosos de san­tidade.

            No início do século vinte, muitas pessoas da Santidade começaram a rece­ber o Espírito Santo com evidência fa­lando em novas línguas. Algumas destas pessoas viram o dom do Espírito como uma terceira experiência. Conseqüentemente, diziam ser, "salvos, santificado e cheios do Espírito Santo." De modo que, muitos logo volveram da convicção que a santificação era uma obra separada da graça. Em vez disso, ensinavam que a santificação é um processo pelo qual ini­cia o novo nascimento. No mesmo tem­po, eles retinham forte ênfase num estilo de vida "santificada".

            Pessoas santas continuam aplican­do os princípios Bíblicos e ensinamentos para todas as áreas das suas vidas.